ANA não entende falta de decisão sobre novo aeroporto de Lisboa

No painel ‘O papel da aviação na retoma do turismo’, no âmbito da conferência promovida segunda-feira pela CTP, em Coimbra, o presidente do Conselho de Administração da ANA-Aeroportos de Portugal, José Luís Arnaut, afirmou que o país não deve ter uma nova infra-estrutura aeroportuária complementar ao aeroporto de Lisboa, antes de 2035/2040 e pediu uma solução política célere.

Como o Opção Turismo noticiou, esta preocupação foi também expressa pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrou a conferência que visou assinalar o Dia Mundial do Turismo, que teve como tema central ‘Retomar o crescimento.

Entretanto, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, respondendo a estas preocupações, assegurou esta terça-feira que o futuro aeroporto de Lisboa vai ser construído antes de 2035.

– Eu não sei qual é a ideia do presidente da ANA, mas o aeroporto vai ter que estar feito antes. Não sei quando, não vai ser é em 2035, de certeza absoluta, disse Pedro Nuno Santos, depois de lembrar que está em causa o interesse público.

– Temos que entender que a ANA é uma empresa privada e, portanto, colocar cada um nos seus planos. A ANA tem os seus próprios interesses – e nós respeitamos os interesses das empresas privadas – mas, obviamente, estamos aqui a falar de um grande interesse público, sublinhou o ministro.

O ministro Pedro Nuno Santos lembra que a decisão de construir o novo aeroporto no Montijo estava tomada, mas não pôde avançar porque houve o veto de dois municípios, de acordo com o que está previsto na lei, uma lei que considerou errada.

– Nós defendemos a alteração da lei, mas não temos maioria absoluta. Conseguimos o acordo do PSD para proceder à alteração da lei, mas o PSD exigiu uma avaliação ambiental estratégica que irá avaliar vantagens e desvantagens da construção do futuro aeroporto no Montijo e em Alcochete. E é isso que nós vamos ter que fazer, uma avaliação ambiental estratégica, para conseguirmos o consenso que permita alterar a lei, disse Pedro Nuno Santos, para acrescentar que essa avaliação ambiental estratégica levará tempo.

José Luís Arnaut falou de uma situação esquizofrénica, em que existe um concessionário que quer investir e há um conjunto de vicissitudes externas e de constrangimentos de contexto que não permitem avançar.

– A única solução que tem declaração de impacte ambiental é o Montijo, que pode ser construída amanhã. De Alcochete não sabemos e a nova versão do Montijo também não. Portanto, é preciso que haja esse estudo, que o poder político e os partidos se entendam sobre a convergência e nos dêem a possibilidade e nos deixem construir, frisou, para lamentar que se tivesse sido cumprido o acordo assinado com o Governo em 2019, a construção do novo aeroporto no Montijo estaria pronta a começar em 2024.

A TAP e Portugal precisam de um novo aeroporto, sustentou José Luís Arnaut, lembrando que 95% dos turistas chegam a Portugal de avião, e sem uma nova infra-estrutura o turismo não cresce. Com o novo aeroporto, Lisboa poderia receber anualmente mais 10 milhões de passageiros, que se perdem, o que é um valor económico imensurável.

Conforme disse, o aeroporto Humberto Delgado tem restrições de capacidade em terra e no ar. Para já, destacou, estamos a 54% dos valores de 2019, ano em que foi batido um novo recorde, com 31 milhões de passageiros.

Sobre o movimento actual de passageiros, o presidente da ANA adiantou que nos meses de Julho e Agosto os aeroportos portugueses estavam a 66% do tráfego registado em 2019, para realçar que a Madeira e Açores são casos de recuperação fantásticos, com 95% e 87%, respectivamente, quase ao nível de 2019, e o Porto já vai nos 65%. Lisboa está a recuperar bem, com 54%, e Faro, com a limitação dos britânicos, tem ainda alguma dificuldade, segundo disse, alertando para o facto de que se os turistas não vierem para Lisboa por falta de capacidade aeroportuária, vão para outros destinos.

TAP dá boas notícias ao mercado

No mesmo painel, a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener afirmou que a prioridade da companhia para o próximo Inverno IATA, que se inicia no final de Outubro, será consolidar os mercados onde já está posicionada, nomeadamente Brasil, América do Norte e África.

Christine Ourmières-Widener realçou que os principais pontos de venda neste momento da TAP são Portugal e Brasil, com o país da América do Sul a estar até mais forte, desde a reabertura de fronteiras.

Para a executiva, a maior dificuldade, de momento, é a incerteza, motivada pelas oscilações na procura face à pandemia, à qual se junta o plano de reestruturação da TAP, cujo processo está a ser analisado pela Comissão Europeia.

– Eu sou muito pragmática. O plano de reestruturação pressupõe as melhores práticas da indústria, seja ao nível de contenção de custos, seja em melhoria de receitas. O que precisamos agora é de concretizá-lo, frisou, salientando que compreende o investimento de Portugal e dos seus contribuintes na TAP e que toda a companhia sente a obrigação de dar de volta ao país. Embora não seja simples gerir em tempos de elevada incerteza, é algo que temos de fazer. Temos de avaliar opções e a implementação de corte de custos é algo que se pode fazer sem que o plano esteja aprovado.

A presidente executiva da TAP explicou que ainda não tem indicação de quando é que haverá decisão da Comissão Europeia, cujos documentos foram submetidos em Dezembro passado, mas disse que é um bom plano, esperando apenas que seja o mais rápido possível. Apesar disso, destacou, a companhia já está a aplicar o plano e com resultados positivos.

O lado positivo é, conforme indicou, que as fronteiras estão a começar a abrir, primeiro Brasil, e depois EUA. Outro ponto positivo é o apoio do governo, bem como a equipa e funcionários empenhados, defende durante a conferência.

– Olhamos para a procura – por exemplo neste Inverno vamos voar 80% da capacidade que voamos em 2019 porque vemos uma melhoria significativa nas reservas para a frente, sobretudo para o longo curso e vimos um pico para o Brasil e agora para a América do Norte. Temos de tomar decisões com base nos factos e temos de usar os factos que temos para seguir em frente, rematou.