Governo de Cabo Verde quer reassumir a CVA

É um volte face. O governo do arquipélago vendeu a maioria do capital da Cabo Verde Airlines (CVA) mas anuncia que vai iniciar negociações para reverter privatização da companhia aérea.

O primeiro-ministro garantiu que o Estado cabo-verdiano vai assumir na totalidade a gestão da CVA, para salvaguardar o interesse nacional, explicando que depois de reestruturar a companhia avançará o processo para procurar um novo parceiro estratégico.

O governo cabo-verdiano inicia esta semana negociações para reverter a privatização da Cabo Verde Airlines, decisão que o primeiro-ministro justifica com a indisponibilidade dos investidores islandeses que lideram a companhia para a injecção de capital.

Em declarações à televisão pública cabo-verdiana, Ulisses Correia e Silva disse que o governo vai encetar um processo de reverter a privatização dos 51% do capital que está na posse, hoje, da Loftleidir Icelandic, tendo em conta que nós não estamos a perspectivar que num futuro próximo, primeiro, haja injecção de capital por parte do parceiro estratégico de forma a garantir a perenização e a continuidade das operações da companhia.

Como segundo motivo, Ulisses Correia e Silva apontou o incumprimento de alguns acordos estabelecidos em Março entre o governo e a administração da CVA, para permitir a retoma das operações da companhia após 15 meses de suspensão da actividade devido à pandemia da Covid-19.

Refira-se que, em Março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

A CVA, em que o Estado cabo-verdiano mantém uma posição de 39%, concentrou então a actividade nos voos internacionais a partir do ‘hub’ do Sal, deixando os voos domésticos.

A companhia deveria ter retomado na sexta-feira passada os voos internacionais, com uma ligação entre o Sal e Lisboa, que acabou por não se realizar, após várias horas de espera no aeroporto, face à falta autorização da empresa ASA, que gere o espaço aéreo e os aeroportos, num alegado diferendo, não esclarecido ainda por qualquer uma das partes, sobre pagamentos em atraso por parte da empresa.

– Estaremos sempre do lado da protecção do interesse nacional, é isso que iremos fazer, no sentido de criar todas as condições para que a retoma dos voos seja uma retoma sustentada, que não passe apenas por fazer mais ligações, mas passa por garantir que a companhia possa ser reestruturada, possa realizar as usas operações, possa satisfazer os seus compromissos com os credores e fornecedores, disse ainda Ulisses Correia e Silva, explicando que depois de reestruturar a companhia avançará o processo para procurar um novo parceiro estratégico.

O governo cabo-verdiano anunciou no final de Fevereiro deste ano um acordo com a administração da companhia para a retoma das operações, prevendo a renegociação com credores. Na sequência deste entendimento, o executivo autorizou o quinto aval do Estado a um pedido de empréstimo de emergência da administração da CVA, de 12 milhões de euros. Com este aval, os financiamentos pedidos pela companhia desde Novembro, com garantia do Estado, elevam-se a quase 20 milhões de euros.

O novo acordo previa a redução de três para duas aeronaves e a retoma a curto prazo dos voos para Portugal e EUA, para servir a comunidade cabo-verdiana. Em contrapartida, o Estado deveria reforçar a posição no conselho de administração, passando a ter poder real de decisão.