Na abertura do 33º Congresso da Associação de Hotelaria de Portugal, Bernardo Trindade mostra-se confiante na resiliência dos empresários em tempos de enormes incertezas.

A pouco mais de um mês do final do ano, o setor da hotelaria divide-se perante um balanço francamente animador e o aumento das incertezas em 2023.

Os anos da pandemia fizeram-nos recuar 20 anos em termos de dormidas e 10 anos em termos de proveitos. E se estamos a bater recordes de receita em 2022, realisticamente, a guerra na Ucrânia trouxe um grau de incerteza tal na construção da cadeia de valor do turismo, que não nos permite dizer qual o nível de resultados que teremos em 2022. Tudo está mais caro. O custo da mão de obra, a eletricidade e o gás, a cadeia alimentar, as diversas prestações de serviço. E a perspetiva mantém-se incerta, anunciou Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).

No seu discurso de abertura do 33º Congresso da organização, que decorre em Fátima até sexta-feira, dia 18, o responsável da AHP reconhece que a recuperação do setor ultrapassou todas as melhores previsões. Dados reforçados pelo estudo da STR, ontem apresentados, e que apontam para uma recuperação estrondosa quer ao nível da ocupação, quer ao nível das receitas em 2022. Entre Agosto e Novembro deste ano, Portugal assumiu a liderança na recuperação das taxas de ocupação em toda a União Europeia. A Europa recuperou os níveis de tarifas médias face a 2019 em menos de seis meses e, o nosso país, voltou a destacar-se no crescimento das tarifas, surgindo à frente dos vizinhos espanhóis, mantendo ainda assim espaço para crescer sem perder a sua atratividade na relação preço/ qualidade.

Apesar da recuperação, o setor defende que há ainda um caminho a percorrer até alcançar de novo o equilíbrio financeiro das empresas. Bernardo Trindade alerta para a necessidade de se alargarem as maturidades das linhas de crédito e premiar os projetos em função das metas concretizadas.

A autonomia financeira das empresas degradou-se durante a pandemia. As linhas de crédito de apoio foram importantes, mas caminham para a sua maturidade, assegurou, acrescentando que a decisão em investir e financiar-se num tempo de tanta incerteza e que afeta diretamente a procura.

Novos projetos em linha

Aos custos, impactos da guerra e às taxas de juro, juntam-se à lista de preocupações dos empresários as fragilidades para a retenção de mão-de-obra.

Da recuperação mais rápida do que prevíamos em 2022, resultou também uma qualidade de serviço pior. Tenhamos todos essa consciência. E estamos todos, todos os nossos associados a trabalhar. Os estudos apontam aliás para a liderança no crescimento dos salários no turismo quando comparados com a restante economia portuguesa. Estamos a trabalhar entre todos os presentes num novo paradigma de prestação de serviço que confira outro tipo de regalias aos nossos colaboradores revelou o presidente da AHP.

Para reforçar as vendas, a associação pretende relançar até Dezembro, o projeto Click2Portugal, com mais de 600 unidades aderentes e agora reconvertido numa plataforma agregadora gratuita da hotelaria nacional de todas as categorias e que vai permitir lançar campanhas específicas e vender diretamente.

Em breve, deverá também ser relançada a plataforma digital “AHP Tourism Monitors”, mais simples e com novos indicadores.

Já no segundo trimestre de 2023, a associação vai organizar o primeiro Marketplace AHP, onde estarão reunidos associados e parceiros. E, no que respeita à responsabilidade social e sustentabilidade, Bernardo Trindade apela aos hoteleiros para reforçarem a sua adesão ao programa OSPES, nascido em situação de crise e que já permitiu a doação de 230 mil bens e equipamentos a diversas IPSS.

Confederação contesta

A única certeza que temos no momento é a incerteza do que vai ser 2023. A frase de Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal resume o momento em que os empresários se revêm no momento de tomar decisões. Reforçando a satisfação perante os números excecionais registados em 2022, Francisco Calheiros recorda que estes não são suficientes para cobrir os prejuízos de 100% para muitas empresas entre 2020 e 2021. Mas não é apenas esta a grande preocupação entre os empresários da confederação.

A resiliência dos empresários do setor permitiu ultrapassar aquele que foi um ano excecional, que foi 2019, mas é vergonhoso que ainda não exista um plano para o novo aeroporto e que permita receber mais turistas. A confederação integra o grupo de trabalho para o novo aeroporto e ainda não existe uma única reunião agendada, acrescenta este responsável.

Rita Montez