Só na hotelaria, existe um défice de 45 mil profissionais.
A dificuldade em atrair e reter talentos é transversal, mas particularmente dura no setor.
O fecho dos hotéis durante a pandemia e a acelerada recuperação após a sua reabertura expuseram ainda mais as dificuldades sentidas pelo setor na atração e retenção de trabalhadores. Reconheço que neste cenário a qualidade do serviço por nós prestado piorou de uma forma global em 2022, reconhece o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Bernardo Trindade.
Com muitos trabalhadores a procurar outras áreas de atividade, a hotelaria foi também, em termos médios, líder no crescimento dos salários, evolução que ainda assim se mostrou insuficiente para inverter este cenário. O acordo de mobilidade assinado com a CPLP no sentido de agilizar a chegada de trabalhadores a Portugal e que se esperava contribuir para reduzir a falta de mão-de-obra no turismo tem-se mostrado igualmente aquém das expectativas dos empresários: muitos chegam com défices na área da formação técnica e linguística, explica Bernardo Trindade.
A solução poderá passar por mais e melhores condições que atraiam os melhores. Os funcionários já não esperam apenas regalias como um seguro de saúde, precisam de sentir um propósito do seu papel na empresa.
Nas nossas fábricas, os funcionários têm em média mais do que o 12º ano. O trabalho hoje em dia exige cada vez mais conhecimento, incluindo na área da mecatrónica, exemplificou a CEO da Têxteis Manuel Gonçalves, Isabel Furtado, que participou num painel dedicado à gestão em tempos de mudança durante o Congresso da AHP.
À semelhança do turismo, também a indústria têxtil se tem debatido com a dificuldade na contratação de trabalhadores, pelo que face à possível redução da semana de trabalho para 4 dias, a gestora mostra-se categórica na impossibilidade de aplicação da lei na indústria.
O trabalho de fábrica é repetitivo e impossível de prolongar por mais horas para compensar o corte de um dia, explica.
No turismo, onde os horários se prolongam por 24 horas, 7 dias por semana, 365 dias por ano, esta proposta recebe igualmente um chumbo por parte dos empresários.
Estamos todos contra a semana de 4 dias. É de uma falta de oportunismo total num momento em que estamos numa conjuntura de quase pleno emprego e acabámos de assinar um acordo para o crescimento de salários, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal.
Rita Montez