Total Fun: programação própria representa 80% do volume de negócios

A agência de viagens Total Fun foi constituída oficialmente no dia 03 de Abril de 2001, em Coimbra, a cidade onde eu e o meu irmão Tiago, juntamente com o Ricardo Correia – que esteve na génese do projecto, tornando-se mais tarde sócio da empresa -, morávamos e estudávamos. Portanto fazia sentido para nós mantermos a sede social em Coimbra. Quem o diz é Ricardo Baptista, CEO e Leisure Director da Fun Travel, acrescentando que Coimbra fica estrategicamente perto de tudo. Estamos praticamente de uma a duas horas de distância de todo o País, portanto conseguimos sempre chegar a todo o lado.

A Total Fun apareceu quando os actuais três sócios ainda estudavam, sendo a ideia o acrescentar valor às viagens de finalistas que se realizavam para Lloret de Mar.

Conseguimos introduzir diversas inovações no mercado, tendo trabalhado com diversos operadores do mercado de finalistas. Criámos um conceito de viagens de estudo diferenciadoras, tentando sempre acrescentar uma componente tecnológica, que na altura ainda era algo muito incipiente, continua a explicar o CEO da empresa.

O nome da agência, Total Fun, deriva do nome original de Total Fun Entertainement. Isto, porque no começo era uma empresa de animação turística, trazendo valor acrescentado às viagens ide finalistas, numa fase inicial para Lloret de Mar.

Quando deixámos o mercado das viagens de finalistas “tradicionais”, deixámos cair o ‘Entertainement’, até porque é uma palavra que é difícil de comunicar, existindo sempre um potencial para ser escrita de uma forma incorreta.

Total Fun, hoje, é uma marca e também o nome social da empresa, formada pelos três sócios: os irmãos Ricardo Baptista e Tiago Baptista e Ricardo Correia.

Refira-se que a agência de viagens que actua em três áreas de negócios complementares, nomeadamente o desenvolvimento de programas de turismo temático para grupos; organização de viagens corporativas e eventos; e oferta de viagens para clientes individuais.

Segundo o nosso entrevistado, a Total Fun especializou-se em turismo vivencial, levando clientes do normal para o extraordinário, permitindo uma real imersão numa nova cultura, juntamente com actividades apaixonantes. Independentemente se estamos a elaborar programas B2B ou B2C, Incoming, Outgoing ou Doméstico, especializamo-nos no turismo temático.

Também trabalhamos alguns segmentos um pouco mais tradicionais, como sejam as Viagens de Estudo e as Viagens Culturais, mas tentamos sempre colocar nos programas um toque próprio. Na área MICE, trabalhamos essencialmente as viagens corporativas, o turismo desportivo e os eventos.

Devido ao 2020 e às perspectivas de 2021, resolveram “tirar da gaveta” alguns projectos já pensados, mas para os quais ainda não tinha havido a oportunidade de serem colocados em prática. Nomeadamente, o segmento ‘luxury’, as viagens de casamento e as luas de mel.

Estamos já a trabalhar com parcerias na área dos casamentos quer incoming quer outgoing e até ao final de Abril 2021 lançaremos um novo portal dedicado às luas de mel.

Numa análise ao ano de 2021, Ricardo Baptista diz que ele teve três fases distintas, sendo que na primeira, por sinal o primeiro trimestre, estavam a colher frutos do trabalho anterior e a desenvolver produtos para 2020, perspectivando o melhor ano de sempre.

A segunda fase relativa ao período entre Abril e Agosto, onde tivemos o balde de água fria, o desfazer de todo o trabalho conquistado, cancelando reservas, comunicando com clientes, elaborando planos de contingência. Depois, na terceira fase, de Agosto a Dezembro e que decorre até agora, foi a reorganização estratégica da empresa, a redefinição de mercados e a preparação de lançamento de programas.

E como todas ou quase todas as agências de viagens, a Total Fun também teve uma acentuada quebra na sua facturação.

Podemos inclusivamente precisar, 96,8% foi a nossa quebra de faturação em 2020 comparativamente com o ano anterior.

No que concerne a programação, saliente-se que na Total Fun a programação própria equivale a cerca de 80% do volume total de negócios. E esta percentagem é justificada pelo nosso interlocutor pela forma como os programas da empresa, que têm bastante aceitação, são estudados e ainda pelas auscultações que faze junto do mercado antes de serem lançados.

– São programas em que acreditamos e com os quais nos identificamos, existindo sempre um cunho muito pessoal neles. Como trabalhamos nichos e segmentos com pouco histórico (ou nenhum), há sempre um risco acrescido, mas é nosso trabalho mitigá-los ao máximo.

– E como será o ano de 2021?

Achamos que estávamos todos a contar que a confiança para viajar por parte do mercado viesse mais cedo. Contávamos todos que a esta altura já tivéssemos um desconfinamento que transmitisse essa mesma confiança às pessoas. Infelizmente, seja por uma vacinação mais lenta que o esperado, seja por a falta de uma política de fronteiras concertadas, seja mesmo por uma comunicação social que privilegia o fantástico ao real, as pessoas estão ainda com receio de viajar, embora com imensa vontade de o fazer.

Acreditamos que as apostas que estamos a fazer agora irão resultar, todavia, 2021 será um ano de retoma pálida, eventualmente na casa dos 25-30% em relação aos valores de 2019.

Numa análise ao trabalho da Turismo do Centro de Portugal, Ricardo Baptista refere que sendo a região de turismo com mais área em Portugal, tem feito um trabalho meritório, embora contando com imensos problemas, nomeadamente a captação de noites para a região, pois (até à data) era tendencialmente uma região de passagem. Refira-se ainda que o Turismo do Centro tem tentando qualificar a oferta, trabalhando com os empresários da hotelaria e animação turística para os fortalecer e divulgar.

A Total Fun é associada da APAVT, aderente ao Provedor das Agências de Viagens e está também inserida na rede GEA.

Quanto a problemas….

Não somos diferentes das outras agências, os nossos problemas prendem-se com a rentabilidade do mercado. Existe uma dificuldade em valorizar o trabalho do agente de viagens, que é o fundamento da margem que todos nós ganhámos. Seja por factores internos do sector (falta de formação, pouca atractividade da profissão ou até mesmo guerras de preços – que só descredibiliza a profissão) ou por factores externos (qualquer pessoa com acesso à internet é um potencial agente de viagens), as horas que investimos a estudar destinos, hotéis, escolher voos, negociar preços e resolver problemas dos clientes tendem a não ter uma valorização no preço final, explica o CEO da Total Fun destacando que no nosso caso, além dos custos que todas as agências e operadores têm, temos também ainda o custo da inovação, que muitas vezes sendo os primeiros num determinado mercado implica que tenhamos um custo acrescido de pesquisa e divulgação, custo esse que por vezes é difícil de ser cobrado.

Junte-se ainda o facto de que, neste momento, além destes problemas estruturais, existe um problema conjuntural, como todo o mercado, que é o facto de não termos um alívio de custos proporcional à quebra de vendas.

E quanto às medidas tomadas pelo Governo para “aliviar” a crise económica provocada pela pandemia da covid-19?

– Mais medidas são sempre bem-vindas, mas temos que ser conscientes e realistas. O dinheiro público não é elástico. Portugal percorreu um caminho gigante pós-troika, mas continuamos com as nossas fragilidades económicas e financeiras. Os apoios até à data, têm tido uma lógica por trás, o que é algo muito importante, pois permite-nos ter uma perspectiva do futuro.

Se são suficientes ou não é sempre complicado de definir.

Ricardo Baptista, a terminar esta troca de impressões, ressalva que os apoios e medidas têm mantido a nossa existência e esperamos que à medida que o sector vá necessitando de apoios de uma forma estrutural, o Estado consiga entender a nossa situação actual e principalmente o nosso contributo para o País.