Pedro Costa Ferreira iniciou a sua intervenção como ‘novo’ presidente da APAVT, destacando que a Direcção que hoje toma posse obteve, num contexto de dificuldade extrema e nunca verificada, a maior votação de sempre, em setenta anos de história da APAVT.
Referindo-se ao mandato que agora começa diz que se trata de um mandato em que duas etapas estão previamente definidas. A etapa da sobrevivência, obviamente ligada à recuperação da situação pandémica, e a batalha da perenidade do modelo de negócio, relacionada com o posicionamento na cadeia de valor e a relação com o cliente, nos anos subsequentes. Acrescenta ainda que o sector vai encontrar dois desafios maiores, o da tesouraria e o do momento da retoma.
– Problema de tesouraria, aliás, agravado por duas circunstâncias que devemos relevar. Desde logo, um acrescido esforço de reembolso a clientes, conhecido de todos; por outro lado, uma capacidade de financiamento reduzida, tanto por balanços destruídos e consequentes dificuldades de diálogo com a banca, como por dificuldade de acesso aos esquemas de recapitalização previstos, afirma Pedro Costa Ferreira, lançando à secretária de Estado do Turismo o repto de juntos, criarmos as condições para o cumprimento integral dos reembolsos das agências de viagens aos seus clientes. E continua:
– Quero transmitir-lhe, sobretudo, como estamos certos de que nos irá ajudar a encontrar uma solução que permita cumprir o essencial, o reembolso dos consumidores, preservando o único instrumento de reembolso conhecido e aceitável, as empresas, e nunca prejudicando o Estado.
Voltando a falar do desafio à sobrevivência, o presidente da APAVT destaca a dificuldade da retoma, a incerteza da retoma, o sangrar contínuo da insuportável espera pela retoma, onde estamos juntos com a aviação, os hotéis, o alojamento local, o rent-a-car, a animação turística e a restauração, apelando por mais linhas de crédito, por apoios estruturantes a fundo perdido, por um modelo de recapitalização que anteceda o fim das moratórias bancárias, sobretudo por um sistema de apoios integrado, que seja previsível e permita o planeamento, e que não nos tire pela janela, em impostos e prestações da segurança social, o que nos entregam pela porta da frente, em apoios.
APAVT e CTP: os mesmos problemas
– E porque todos enfrentamos os mesmos problemas, a APAVT continuará a desenvolver trabalho e integração activa e leal na CTP, apoiando desta maneira, o diálogo necessário da instituição de cúpula turística, com o Governo.
Pedro Costa Ferreira lembra que se é necessário e urgente travar a batalha da sobrevivência, do ponto de vista do sector, a procura da perenidade é a espinha dorsal da agenda de todo o sector que representamos.
– Em primeiro lugar, e provavelmente mais importante, as agências de viagens têm de continuar a travar a batalha da criação de valor.
O cliente não é nosso por imposição legal, como alguma ignorância ainda defende, nalgumas esquinas menos bem informadas. O cliente, disputado por toda a cadeia de valor, é hoje resultado de uma constante criação de valor, seja ela consolidada em confiança, segurança, inovação, criatividade ou outra qualquer via.
A nível internacional, considera a necessidade de gerir uma lei europeia das viagens organizadas iníqua, desajustada, antiga e ferida da atuação de diversos lobbies europeus.
– De referir ainda que nesta esfera internacional, estaremos naturalmente motivados e disponíveis para aproveitar a nossa integração na ECTAA, num quadro de Presidência portuguesa da Comissão Europeia. E a justificar a afirmação diz não ser por acaso que marcou presença nesta tomada de posse, Pawel Niewiadomski, presidente da Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens.
TAP e SATA são necessárias a Portugl, mas…
Como era já esperado, a TAP e a SATA também foram parte da intervenção de Pedro Costa Ferreira, que começou por explicar que uma estratégia para o Turismo não existe sem uma estratégia para as companhias aéreas nacionais, e há que dizer a ambas é que a APAVT está sempre do lado das soluções. A TAP e a SATA são necessárias a Portugal, frisou.
No entanto, o presidente da APAVT disse que não poderia deixar de abordar o tema tão mediático do processo europeu de recuperação e resgate em preparação.
Desde logo e em primeiro lugar, para salientarmos o banho de realidade a que o Governo foi sujeito, Governo que impôs na TAP o que proibiu a todas as outras empresas portuguesas, um cocktail composto tanto de apoios estatais como de redução de vencimentos e despedimentos. Temos naturalmente pena que o Governo, em sede própria, nas empresas em que participa, perceba que ninguém despede por prazer, mas sim para salvar outros empregos, para depois em quinta alheia, nas nossas empresas, pensar que por detrás de um despedimento está sempre um senhor com cifrões nos olhos, barriga grande e chapéu alto na cabeça. Todos nós, empresários, estamos a lutar também, por manter emprego, nenhum de nós se separa de um colaborador com um sorriso nos lábios. Nenhum de nós!
Em segundo lugar, para lastimarmos que o diálogo político não vá mais além que a banalidade do sound bite.
Porque ninguém constrói um País melhor simplesmente dividindo o valor dos apoios à TAP pelo número de portugueses, para de forma simples calcular quanto os portugueses ficarão mais pobres.
Mais pobres? Comparado com o quê?
Como se os milhares de desempregados diretos e indiretos decorrentes de uma hipotética falência, não fossem igualmente custo dos portugueses; como se a degradação das contas externas decorrente de uma hipotética falência não gerasse nova dívida, novos juros e novos impostos para os portugueses; como se a perda de um Hub e as consequências desastrosas para o turismo não significasse menor riqueza para o País e para os portugueses.
Em terceiro lugar, gostaríamos, até em consequência dos dois pontos anteriores, de vos deixar a forte convicção que o momento apenas nos aponta um caminho – o da mobilização total de todos os stakeholders no sentido de realizarmos um pequeno milagre, o de conseguirmos que uma TAP visível, viável e influente, consiga sair do atual processo de recuperação. Não será pouco, sabendo nós que, em todos os restantes processos similares, apenas uma companhia aérea sobreviveu até hoje.
Até porque, aí sim, se conseguíssemos ter êxito nessa tarefa, poderíamos concluir que teríamos todos contribuído para que os portugueses não fiquem ainda mais pobres, comparando, sem medo, com qualquer outro cenário!
Dirigindo-se aos agentes de viagens,
Começou por destacar que já começa a ser difícil descrever o esforço sobre-humano que tem estado na base da manutenção das empresas.
Apenas podemos desejar que um regresso rápido à normalidade permita que iniciemos a jornada da recuperação, que não será de resto, ela própria, menos difícil.
A terminar a sua intervenção deixou a promessa de que continuaremos a trabalhar numa lógica de construção. Não conhecemos inimigos. Trabalhamos com quem simplesmente não pode estar de acordo connosco ou com quem apenas discorda pontualmente de nós, com o mesmo entusiasmo com que trabalhamos com quem se reconhece na nossa forma de trabalhar e nas nossas ideias. E rematou: entre gente de bem, com todas estas atitudes é possível trabalhar, construir e avançar.
E as últimas palavras foram para agradecer a coragem de terem aceitado o cargo, e a disponibilidade para os problemas de todos, num momento em que são vocês também que enfrentam problemas nunca experienciados.