É crucial que o aumento de número de camas não ponha em causa a qualidade do destino Madeira

«» Entrevista com Roberto Santa Clara, director executivo da Associação de Promoção da Madeira

Em meados do passado mês de maio concretizou-se no Funchal a assinatura do acordo com vista a realização do Congresso APAVT 2019 no Funchal, a decorrer no próximo mês de novembro. Acordo esse, celebrado entre a Associação de Promoção da Madeira (APM) e a Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo (APAVT)

Este acordo aconteceu também na altura em que já se encontra no ar a mais recente campanha dirigida ao mercado nacional, sob o mote “Este é o ano para ir ă Madeira”, lançada pela APM.

Mais recentemente, o Opção Turismo teve a oportunidade de trocar algumas impressões com Roberto Santa Clara, director executivo da Associação de Promoção da Madeira que nos começou por explicar que a associação foi fundada em 2004 e é uma entidade público-privada que tem como sócios fundadores o Governo Regional da Madeira e a ACIF-Associação Comercial do Funchal e conta hoje com cerca de 230 associados e enorme representatividade do sector do turismo da Madeira e do Porto Santo.

No que concerne às verbas para a gestão da associação, as fontes de financiamento são públicas e privadas, através do Governo Regional da Madeira(67%), do Turismo de Portugal (21%) e através das quotas dos seus associados (6%).

O financiamento público assume uma parcela significativa do nosso orçamento que, para 2019, atingiu pela primeira vez os 10 milhões de euros, refere Roberto Santa Clara.

Opção Turismo (OT) – Nota-se uma maior insistência, nos últimos tempos, na conquista do mercado nacional. Acontece esta situação pela quebra em alguns mercados internacionais de referência?

Roberto Santa Clara (RSC)O mercado nacional foi assumido já em 2015, altura em que esta equipa entrou na APM, como uma prioridade independentemente da ‘performance’ de outros mercados sendo que, até nessa altura, os nossos maiores mercados atingiram resultados recorde. A aposta foi feita por acreditarmos muito no mercado, por ser um destino de proximidade e porque, à data, existiam enormes oportunidades de melhoria pelas quais temos vindo a trabalhar.

OT – Qual tem sido a evolução do mercado nacional na Madeira nos últimos anos?

RSCApesar de um ligeiro decrescimento em 2018, o mercado nacional apresenta, entre 2015-2018, um crescimento acumulado de dois dígitos, quer em hóspedes como em dormidas nos estabelecimentos.

Segundo as estatísticas mais recentes, alusivas ao mês de março, o mercado nacional tem, em 2019, um crescimento acumulado de 8,3% em hóspedes e 7,1% em dormidas (Alojamento Turístico Colectivo).

Considerando o período compreendido entre 2015-2018, verifica-se também uma evolução positiva no número de turistas portugueses, com crescimentos nos estabelecimentos hoteleiros na ordem dos 18% em hóspedes e 15% em dormidas.

OT – Por falar em quebras de mercado, pode resumir o comportamento actual e quais as principais causas para isso?

RSCApós um crescimento contínuo em praticamente todos os indicadores, nos últimos 3 anos, 2018 terminou com decréscimos gerais, reflectindo uma conjugação de factores desfavoráveis para o Destino, nomeadamente a falência de sete companhias aéreas com operações directas para a Madeira e o ressurgimento de outros destinos.

Refira-se que os mercados que mais se contribuíram para estas quebras foram Reino Unido, Holanda e Alemanha, que sofreram decréscimos quer em hóspedes como em dormidas.

No entanto, os primeiros 3 meses de 2019 apresentam alguns dados curiosos, com crescimentos a nível de passageiros no aeroporto e número de hóspedes e um ligeiro decréscimo no total de dormidas, a nível do Alojamento Turístico Colectivo.

O director executivo da Associação de Promoção da Madeira revela que os crescimentos mais significativos, em dormidas e em 2018  foram Portugal (+7,2%), Suécia (+19,0%), Espanha (+8,9%), Itália (+10,5%), Canadá (+11,2%) e os EUA (+8,0%).

OT – Em relação à campanha “Este é o ano para ir à Madeira”, já há algum feedback?

RSC – O conceito  criativo da campanha, que foi concebida internamente pela nossa equipa, foi muito bem aceite e tem inclusive vindo a ser replicado por alguns parceiros da distribuição nacional, o que do nosso ponto de vista demonstra o seu potencial. Embora seja cedo para avaliar, os resultados do mercado nacional são animadores. No entanto, os dados que temos são anteriores ao lançamento da campanha e apontam para crescimentos de 8,3% e 7,15% respectivamente em hóspedes e dormidas.

OT – Quais os principais activos turísticos em que a estratégia de promoção aposta para sustentar o crescimento nos próximos anos?

RSC Falar em crescimento no corrente ano e no actual cenário pode ser demagogo e não gostava prometer o que não me parece ser viável. Naturalmente que é vital trabalhar o futuro e nesse sentido continuamos a levar a cabo a estratégia aprovada pelos nossos associados. A base de actuação prende-se com a consolidação dos principais mercados emissores, com o desenvolvimento de potenciais e com o aparecimento de mercados de diversificação que já constam na nossa matriz de mercados desde 2017 tais como o Brasil e os EUA.

Para Roberto Santa Clara, os pilares da nossa estratégia estão muito bem definidos e assentam nas seguintes áreas: consolidação da estratégia de marketing digital com disseminação de conteúdos muito bem definidos por mercado e produto, de acordo com as plataformas; proximidade à distribuição e forte investimento em campanhas co-branding com Companhias Aéreas, Agentes de Viagens e Tour Operadores; trabalho focado ao nível da área de RP com uma estratégia definida por mercado ao nível dos conteúdos e tipo de media e influencers a considerar.

OT – Em seu entender quais são as principais características diferenciadoras da Madeira em relação a outros destinos congéneres?

RSCClaramente a perfeita conjugação de microprodutos na área da natureza, mar e lifestyle. A exuberância da natureza, as actividades de turismo activo ou as experiências gastronómicas que se podem fazer num destino seguro e com um clima ameno ao longo de todo o ano. A Madeira é um destino com enorme tradição de bem receber (algo que agora se quer impor aos destinos) e uma excelente qualidade de alojamento e serviços. Por outro lado desconheço algum lugar com uma praia tão bonita e uma água tão limpa e transparente como o nosso Porto Santo oferece.

OT – Considera que a ilha da Madeira já tem o número suficiente de unidades hoteleiras? Porquê? E quanto ao Alojamento Local?

RSCConsidero que face ao contexto do turismo e dos lugares de avião disponíveis é um tema que deve ser bem acompanhado e monitorizado para uma eventual revisão do POT. É crucial que o aumento de número de camas não ponha em causa a qualidade do destino nem a estratégia de valor que tão bem foi conseguida foi desde 2015 com excelentes reflexos no Revpar e nos proveitos globais do sector que em 2018 atingiram os 410 milhões de euros e com um crescimento de 26,7% desde 2015. O Revpar cresceu 23,5% no mesmo período e atingiu 51 euros em 2018. É muito importante reflectir para que o destino encontre uma gestão integrada nas varias áreas para que não se inicie um percurso inverso.

A terminar esta entrevista, perguntámos a Roberto Santa Clara, director executivo da Associação de Promoção da Madeira se a ilha da Madeira corre o risco de vir a ser “transformada” numa espécie de paraíso para o turismo de massas?

RSCDe todo. Não julgo que isso vá acontecer. Quer pela sua capacidade de carga quer pela qualidade que o sector nos habituou. Todavia e como referi atrás é crucial monitorizar sistematicamente e ter coragem de tomar as decisões que protejam uma estratégia a longo prazo.

Luís de Magalhães