Para o sector da distribuição turística a urgência é a sobrevivência e a alteração é a necessidade de criar cada vez mais valor. Foram duas questões evidenciadas na Web Conferência da GEA, que teve lugar esta terça-feira, pelo presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira, o director regional da Travelport, António Loureiro, o e o director-geral da Solférias, Nuno Mateus. Também Pedro Ribeiro, director Comercial do grupo hoteleiro Dom Pedro, também está de acordo.
No painel ‘As mudanças previsíveis na cadeia de valor na era pós-Covid desde o comportamento no consumidor até ao produto. Como adaptarmo-nos?’, Costa Ferreira fez questão de lembrar que o sector da distribuição vai ter poucas alterações mas muitas consequências, num tempo de sobrevivência até final do próximo ano, e com dificuldades e exigências em termos de tesouraria, porque será, efectivamente, em 2021, que as agências de viagens vão vender viagens através de vales de viagens não realizadas em 2020 ou de reembolsar os seus clientes até ao dia 31 de Dezembro de 2021.
Se isso não acontecer, alerta o presidente da APAVT, tanto o sector da distribuição como o do turismo em geral vai ficar com a conotação de falta da seriedade. Conseguir, ao longo de 2021, pagar os reembolsos a todos os nossos clientes é um verdadeiro desafio de manutenção de postos de trabalho e de agências de viagens. É o desafio da nossa sobrevivência, destacou para acrescentar que todo o trabalho notável que as agências de viagens realizaram no início da pandemia de repatriamento de turistas portugueses que estavam espalhados além-fronteiras não vai ser relembrado se não formos capazes de reembolsar os valores que os clientes têm à nossa guarda.
– Os vales estão já todos pagos pelos nossos clientes, são já dívidas nossas aos nossos clientes. Mas uma parte dos reembolsos dos nossos fornecedores já foram recebidos por nós e foram gastos em custos directos necessários para não falirmos. Este vai ser um momento de grande dificuldade de tesouraria, sobretudo num momento em que o financiamento será mais difícil, esclareceu.
Sobre as alterações, Pedro Costa Ferreira disse que não vai haver grandes mudanças ao nível da oferta, até porque ela se mantêm intacta, embora alguns destinos turísticos tenham que fazer investimentos na melhoria das suas respostas sanitárias. No que diz respeito ao consumidor, acredita que quando a confiança voltar, a procura vai voltar, primeiro no segmento do lazer e depois do MICE.
Além da sobrevivência, a criação de valor por parte das agências de viagens é também um dos aspectos fulcrais do sector no próximo ano, como também a alteração do modelo de negócio. Atenção, disse: vai haver mais risco, menos crédito, maiores dificuldades de financiamento, menor proximidade do consumidor a favor do digital, mas acima de tudo acrescentar valor e fazer entender aos clientes que esse valor é criado. Muita e muita formação.
Já para Nuno Mateus, que também participou no painel, o grande desafio nas operações do próximo ano vai ser a flexibilidade nos cancelamentos, por isso, o que está a acontecer é que o consumidor está a aguardar pelo last minute, porque querem ter garantias de que, no caso de haver alguma reviravolta, que haja uma salvaguarda.
O que Nuno Mateus não tem dúvidas é que é que os consumidores vão estar cada vez mais preocupados com a segurança nas reservas que efectuam, por forma a terem alguém credível a quem recorrer quando houver algum problema.
Para programar a operação existem, segundo o director-geral da Solférias, alguns problemas, que passam fundamentalmente pelo facto da falta de uniformização dos processos de viagens.
Por sua vez, António Loureiro realçou que um inquérito levado a cabo pela Travelport dá conta que 34% dos inquiridos da faixa etária entre os 18-34 anos, que anteriormente não tinham as agências de viagens como veículo na marcação das suas viagens, vai passar a contar com estas no processo. Também, só 5% dos consumidores valoriza a interacção humana com o agente de viagens, daí, conforme disse, é fundamental que a distribuição crie valor e saiba comunicá-la junto dos seus clientes, que conhece bem e o seu comportamento. É o maior tesouro das agências de viagens, disse.
Viagens a familiares e amigos, viagens de pequenas e médias empresas no corporate; estadas mais longas bem como maior flexibilidade das regras de viagens são algumas das tendências apuradas pela análise da Travelport, divulgadas por António Loureiro na Web Conferência da GEA.
Nesta sequência de cadeia de valor, a parceria ligada à hotelaria também foi importante quando Pedro Ribeiro, do Grupo Dom Pedro garantiu que a cadeia hoteleira faz questão de manter a paridade de preços em todos os canais.
Como responsável comercial de uma cadeia hoteleira, com unidades em Lisboa, Algarve e Madeira e a trabalhar diferentes segmentos, Pedro Ribeiro fez questão da salientar que o segmento MICE é o que terá, em 2021, perspectivas de recuperação mais complicadas, principalmente em Lisboa, e a acontecer será a partir de Setembro do próximo ano, enquanto poderá haver boas notícias em relação ao golfe no Algarve com o mercado inglês, a partir de Março/Abril. Já a Madeira, que depende do transporte aéreo internacional, a recuperação do turismo poderá estar na mão dos turistas nacionais.