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Seguindo as pisadas do avô, João Coruche investe lucro na modernização do Hotel Baía

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“Francamente, acho que é um aumento brutal! Não faz qualquer sentido”. Quem o afirma é João Coruche, administrador do Hotel Baia, um agora 4 estrelas localizado numa situação privilegiada, frente à baia de Cascais, a propósito do já quase aprovado do aumento da Taxa Turística no concelho de Cascais que, diga-se a propósito, parece não ser do agrado da maioria dos hoteleiros da região.

“Aliás, fui contra a implementação da taxa de turismo logo de início. Hoje, acho que se está a tornar banal. O que está a acontecer é que em todos ou quase todos os municípios do País, estão agora a implementar taxas de turismo, a torto e a direito, sem controle nenhum e sem razão de ser”.

João Coruche interroga-se a si próprio sobre uma justificação para esse aumento. “Para contrariar o turismo de massas… Para combater o excesso de turismo? Francamente, não acho que haja um excesso de turismo”.

O administrador do Hotel Baía e também vice-presidente da ARHCESMO – Associação Regional dos Hoteleiros de Cascais e Estoril, Sintra, Mafra e Oeiras, considera, no entanto, que “passar de 2 para 4 euros é um exagero!”

“A Taxa de Turismo é algo de bom para Cascais e para o meu hotel porque ajuda na promoção. Sim, sem dúvida. Todavia, o valor da taxa é algo que pesa na decisão da escolha do destino pelo turista. Por outro lado, é uma vantagem para o turista que escolhe Cascais, uma vez que o pagamento da taxa permite entradas gratuitas nos museus e atividades culturais da região. Agora, isso não vale 4 euros por dia!”

João Coruche considera que Cascais é um concelho que vive bastante e está muito dependente do Turismo e, como tal, a ideia da Taxa Turística “foi mal pensada logo desde o início” e, portanto, “acho muito mal este anunciado brutal aumento”, mesmo que seja para acompanhar a Taxa Turística de Lisboa.

O grande objetivo: a quarta estrela

Tal como foi referido no início do texto, o Hotel Baía passou agora a exibir a sua quarta estrela. Trata-se do resultado de um investimento que a administração do hotel tem vindo a fazer há vários anos.

Um investimento de 2,5 milhões de euros, que culminou com o final das obras então programadas em março último. Obras essas que passaram pela renovação e modernização do restaurante, da zona da piscina e toda as áreas públicas.

“No ano passado, renovámos totalmente dois andares de quartos, e no início deste ano, em janeiro e fevereiro, acabámos os outros dois andares. E, logicamente foram feitas outras obras que os clientes não vêm. Por exemplo, as zonas de back office foram também intervencionadas”
O nosso interlocutor relembrou que nunca desanimaram, “nem mesmo em tempos maus e muito maus” e, nomeadamente nos meses de inverno, são feitas obras de manutenção e renovação. “Um investimento de cerca de meio milhão de euros por ano”.

“Nestes dois anos aumentámos o valor dos investimentos precisamente para chegar ao grande objetivo: a quarta estrela.”

Um pouco da história do Hotel Baía

“O hotel Baía tem 62 anos de existência e foi construído pela mão do meu avô João Soares nesta localização invejável. Claro que não posso falar dos primórdios da unidade, mas apanhei muita coisa boa, má e muito má”, desabafa João Coruche que também esteve à frente da unidade durante vários anos.
Hotel emblemático da vila logo no seu aparecimento. Na altura, dispunha apenas de 66 quartos e rapidamente se provou que foi uma aposta bem feita. “O meu avô foi um visionário e arriscou e isto é o ‘lugar’ que ele deixou para os seus filhos e netos”.
Durante mais de uma década o hotel foi vivendo sem problemas.

A autogestão do após 25 de Abril

“No ‘25 de Abril’, após vários conflitos passou para autogestão e nós, família, fomos expulsos do hotel. Eu, os meus pais e a minha irmã, na altura, um bebê recém-nascido, fomos viver para o Brasil. Todavia, os meus avós mantiveram-se sempre cá, sempre a lutar para conseguir rever o hotel. E conseguiram-no finalmente passado alguns anos… em novembro de 1982”.
Uma vez recuperado, foi fácil ver que o hotel se encontrava muito degradado. Todavia, João Soares não desanimou e, uma vez que tinham de ser feitas obras de recuperação, aproveitou-as também para expandir o hotel.

As grandes cheias de 1983

“Depois do então forte investimento e das obras estarem terminadas, Cascais sofreu as grandes cheias. Em meados de novembro de 1983. Era ainda criança, mas lembro-me de ver os pescadores andarem de barco aqui pelo Largo de Camões, por todo lado”.

Os danos materiais, na altura, foram muito grandes. A moral também foi afetada, mas ninguém desistiu.

“Toda a zona do resto de chão e da cave ficou inundada, muito danificada. Na cave, tanto a lavandaria como os escritórios e arquivos ficaram inoperacionais, destruídos. A linha de água chegou ao teto.”

Como não há 2 sem 3: a Covid-19

Já na geração de João Coruche, nova desgraça aconteceu: a Covid-19.

“Eu já estava a trabalhar no hotel. A Covid-19 foi o grande desafio, nunca estivemos preparados para uma coisa assim. Fiz várias aberturas de restaurantes, hotéis, etc., mas nunca tinha feito um fecho! É algo, na altura, imaginável. Ver de repente os clientes a saírem e o hotel transforma-se num hotel fantasma… foi muito triste e difícil.”

No entanto, refira-se, o hotel nunca fechou. Existia sempre alguém na Receção e a Manutenção funcionava. Também João Coruche, na altura diretor da unidade, marcava presença diariamente.

“Fazíamos as nossas reuniões, falávamos ao telefone para tentar reduzir custos, ver o que é que se podia fazer para tentar minimizar os prejuízos, falar com os fornecedores, etc.”
As ajudas do Estado foram aceite e grande parte do pessoal esteve em lay-off. Muitos meses se passaram sem clientes. Pouco a pouco, esporadicamente, lá aparecia um cliente, mais tarde dois… e a recuperação começou. “Foi rápida!”

Para o nosso entrevistado, o ano de 2021 foi ainda muito difícil. Todavia, no final de 2022 foram conseguidos valores muito semelhantes aos de 2019.

“Com essa recuperação e também porque nessa altura existia uma ‘almofadinha’ que nos permitia sobreviver, aproveitámos a altura para começar novas obras e trabalhar rumo às quatro estrelas”, explica o administrador do hotel, salientando que “o meu avô sempre teve a filosofia de reinvestir na empresa. Portanto, quando começámos a ter lucros, voltámos a investir para chegar a esse objetivo”.

Depois da tempestade a bonança

Fruto de todo um trabalho que aconteceu sobretudo em 2023, o hotel Baía ganhou a sua quarta estrela.

De referir que hoje o hotel tem como diretor Fábio Alves, que tem vindo a fazer, segundo a administração, não só um excelente trabalho como também tem acompanhado a vida da unidade desde 2019.

Falando nos dias de hoje, João Coruche afirma que estão satisfeitos com as receitas e face ao produto que é oferecido aos clientes, são muitos os que voltam.

As dificuldades também existem, sobretudo com o constante aumento de preços, dos custos operacionais, nomeadamente de energia, e com a contratação de pessoal.

“Por exemplo, no caso da poupança de energia, água, manutenção… desistimos de ter uma lavandaria e optou-se pelo outsourcing. Só que hoje esse custo está a ser enorme”.

– E o que representa atualmente a restauração nas receitas totais?

“Neste momento representa cerca de 27% do total. Justifica-se não só por se ter aumentado o número de lugares na esplanada como também pelos muitos eventos que acontecem”, explica o administrador da empresa acrescentando que também se verificou um aumento no preço dos quartos. “Tal como na alimentação e bebidas.”

Em termos de faturação e em relação ao ano passado verifica-se um crescimento de cerca de 11%, mas verifica-se uma ligeira descida no número de clientes.

“Em resumo, mais receitas, mas menos ocupação. Até agosto, a nossa taxa média de ocupação quarto está nos 80%. Penso que no final do ano deve ficar nos 78%, contra os 82% do ano passado.”

No que se refere ao número de clientes e até finais de agosto, o principal mercado tem sido o britânico, seguido pelo nacional, norte-americano, irlandês e canadiano. Curiosamente, por número de noites, os hóspedes britânicos estão em primeiro lugar, seguidos pelos dos EUA e Irlanda. A quarta posição é ocupada pelos portugueses.

“No entanto, denota-se um grande crescimento dos EUA e Canadá e uma quebra nos mercados espanhol e francês”.

A terminar esta entrevista, João Coruche, administrador do Hotel Baía, comenta que apesar de tudo o que tem sido feito, “não vamos parar porque o hotel tem 62 anos e muita história. Nesse sentido, estamos a planear, para o inverno, uma intervenção no nosso restaurante e também na zona da piscina”.

“A intenção é melhorar, investindo, mantendo sempre o hotel em perfeitas condições. Não há objetivos definidos, é um ‘work in progress’ uma vez que ainda temos que reconquistar os nossos clientes e manter a reputação que sempre tivemos”.