A mudança da hora, ora atrasando, ora adiantando, tem levantado muita celeuma que se agrava sempre em dias anteriores à mudança. E não é uma coisa só nossa.

Há alguns dias, a Comissão Europeia rejeitou abolir a mudança da hora, depois de um pedido de Espanha, através de uma proposta do primeiro ministro espanhol para encerrar definitivamente a prática até 2026. A desculpa do executivo comunitário é de que o tema “não está no topo da agenda política” e que para tal seria necessário um novo estudo de impacto.

Ao que parece ‘nuestro hermano’ Pedro Sánchez apanhou de surpresa Bruxelas, ao defender que “mudar os relógios duas vezes por ano já não faz sentido”,  frisando que a medida “tem efeitos negativos na saúde e nos ritmos biológicos” e que “já não se justifica do ponto de vista energético”.

No entanto, a Comissão Europeia anunciou que será lançado um estudo para apoiar futuras decisões, mas confirmou que, até lá, “as alterações de horário irão manter-se”.

Recorde-se que atualmente, a União Europeia está dividida em três fusos: Portugal e Irlanda seguem o Horário da Europa Ocidental, a maioria dos países (incluindo Espanha) utiliza o Horário da Europa Central e oito Estados, como a Grécia e a Finlândia, integram o Horário da Europa Oriental. Confusão e ninguém se entende

Os bons e os maus da fita

Os países nórdicos — entre eles Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia — continuam entre os mais favoráveis ao fim da mudança de hora, alegando benefícios para a saúde e o bem-estar da população. Já Portugal e Grécia mantêm oposição clara, defendendo que a alteração teria consequências negativas para o comércio, o turismo e a coordenação europeia.

Outros governos, como o alemão e o francês, preferem adiar qualquer decisão até existir uma avaliação mais clara dos impactos económicos e sociais. Espanha, apesar de defender a abolição, ainda não esclareceu se pretende manter-se permanentemente no horário de verão ou de inverno.

Apesar de tudo há ‘luz verde’ para um novo estudo

Perante o bloqueio, a Comissão Europeia decidiu avançar com um novo estudo para avaliar as consequências da medida, mas sem indicar prazos concretos. Ou seja, o dossiê mantém-se bloqueado, e o relógio da Europa continuará a mudar duas vezes por ano.

E nós por cá, como vamos?

Começemos por dizer que até à revolução industrial ainda pouco interessa havia, mesmo já existindo relógios, na hora exata.

Tudo muda, ou começa a mudar, com o aparecimento transporte ferroviário espalhado por todo o mundo. Porquê? Porque os comboios devem passar a certa hora, anteriormente estudada e definida, pelas estações.

A partir daqui aldeias, vilas, cidades ou países tinham a sua própria hora de acertar o relógio. E depois tentar acertarem todos entre si.

Todavia e devido a muitos fatores, nomeadamente o energético, uns adiantavam uma hora, outros atrasavam duas horas. Outros ainda faziam tentativas diferentes.

Com o início da 1ª Guerra Mundial, os consumos de recursos industriais aumentaram a um ritmo nunca visto até então. Para uma poupança de recursos foi adotada a mudança de hora a 30 de abril de 1916.

Portugal foi um dos países que desde logo imitou os poderes do centro da Europa tendo o governo chefiado por António José de Almeida implementado a Mudança de Hora a começar a 17 de junho de 1916.

Quanto às alterações de horas e durante vários anos, umas vezes era aceite, outras não.

Entrados no período da 2ª Guerra Mundial e estabilização da ditadura chefiada por Salazar a Mudança de Hora foi-se mantendo uma constante, mesmo com variações ligeiras do dia em que ocorria. Isto até 1949.

Em 1949 iniciou-se uma prática que tornou esta hora algo mais fácil para a memorização. A hora de Verão começava a no primeiro domingo de abril ás 02h00, e terminava às 03h00 do primeiro domingo de outubro. Ou seja, algo semelhante à maneira atual, embora desfasada.

Este sistema durou até 1966, com a hora de Verão até ao fim do ano, sendo que a partir do fim desse ano e até 1976 já não se efetuaram mudanças para a hora de Verão.

Com o 25 de Abril de 1974, regressou-se á mudança de hora em 1976, a começar logo no inicio do ano. A partir daí e até 1996 existiu sempre um sistema feito anualmente por decreto, mas com as mudanças no primeiro domingo de abril e último de setembro ou primeiro de outubro.

Com a chegada da legislação Europeia que veio a uniformizar todos os estados membros em 1997 sendo que a partir daí ficou fixa a hora da mudança para Hora de Verão à uma da manhã do último domingo de março, regressando a Hora de Inverno à segunda hora do último domingo de outubro.

Em 1992, Portugal decide dizer ‘não’

Em 1992, o Governo de Cavaco Silva tomou a decisão de não mudar para a hora de Inverno em outubro para fazer alinhar a hora portuguesa com a dos países do Centro da Europa. E isso aconteceu durante quatro anos.

Uma ideia de pouco sucesso que viria a ser acabada pelo Governo de António Guterres logo no seu primeiro ano.