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“Todos sofremos hoje com os vendedores de viagens ambulantes”, Paulo Santos, da Guia de Viagens

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A agência de viagens Guia de Viagens está a comemorar os seus 15 anos de existência. Deu os primeiros passos em 2010 e na Atouguia da Baleia, uma localidade do concelho de Peniche, terra não só onde Paulo Santos, um dos sócios da empresa, nasceu e como também ali reside com a família.   
Quanto à origem do nome da agência, Guia Viagens, surge de um jogo de palavras, entre o AtouGUIA e o guia de guiar alguém pelas suas viagens, explicou o nosso entrevistado, acrescentando que, nessa altura, também não havia concorrência direta [na Atouguia da Baleia], somente na cidade de Peniche.  

Opção Turismo – A ideia uma vez decidida, como foram os primeiros passos?

Paulo Santos – Primeiro de tudo foi necessário tratar de toda a parte burocrática para a abertura de um negócio, na altura ainda existia a necessidade de apresentar um Capital Social de 100.000€. Após as licenças tratadas e o espaço físico escolhido, foi necessário tratar dos contatos com os operadores turísticos e acordos.

A Guia Viagens é uma empresa familiar, tendo de início sido a Guida Henriques, a esposa de Paulo Santos e também o outro sócio, a face visível da empresa. Também desde o seu início que a agência se integrou no Grupo GEA. Saliente-se ainda que são associados da APAVT e aderentes ao Provedor das Agências de Viagens.  

Paulo SantosSomente em 2015, começamos os dois a trabalhar no mesmo espaço. O período de habituação de marido e mulher a trabalhar juntos foi desafiante, mas julgo que com muito respeito mútuo ultrapassamos os desafios e assim passados 15 anos continuam os mesmos sócios e a trabalhar juntos.

Opção Turismo – Desde a sua criação, qual o melhor ano da Guia de Viagens em volume de negócios e se acaso existe alguma razão para isso?

Paulo SantosFelizmente a Guia Viagens tem sido uma empresa com um crescimento estável, e fechamos o ano de 2024 com o maior volume de negócios até hoje. Este crescimento não comprometeu a margem do negócio, como tal podemos afirmar que 2024 foi o melhor ano para a Guia Viagens destes 15 anos de existência.

Opção Turismo – Em 2020, já em plena pandemia da Covid, abrem uma agência na Lourinhã. Não seria estranho, uma vez que os tempos já se adivinhavam difíceis, nomeadamente em termos de viagens …

Paulo Santos – A agência da Lourinhã foi planeada durante o ano de 2019, altura em que ninguém acreditaria que seria possível o que veio acontecer e nós não fomos exceção. Alugamos uma loja, contratamos um funcionário e decidimos abrir a 02 de janeiro. Trabalhamos dois meses, já com ‘nuvens’ e em Março confinamos. Nessa altura tínhamos já algumas vendas e somente uma família que tinha viajado em ferias.

Opção Turismo – Com duas agências a funcionar em plena pandemia, como sobreviveram e como responderam aos desafios de então?

Paulo SantosDesde o primeiro momento que assumimos com todos os clientes o devolver todos os valores que estavam em nossa posse e ficar a aguardar pelo valor que já tínhamos pago aos operadores. Honestamente acredito que temos uns clientes fantásticos e que aceitaram a nossa palavra como garantia do seu dinheiro.

Depois e à medida que o tempo ia passando, receberam os valores entregues aos operadores turísticos e que, naturalmente. eram logo devolvidos aos clientes.

Paulo Santos – No final deste martírio, nenhum cliente ficou prejudicado em um só euro. Foi uma altura extremamente difícil, entre a abrir e fechar as agências nos diversos confinamentos, além de ser complicadíssimo viajar, entre restrições e obrigações que mudavam semanalmente nos vários destinos, chegamos muitas vezes a abrir somente para que as pessoas não pensassem que falimos, mas a vontade de vender era zero.

Opção Turismo – Foram colmatados os prejuízos dos anos da pandemia?

Paulo Santos – Como já disse atrás, 2024 foi o nosso melhor ano, suplantando largamente o 2019. Relativamente aos prejuízos estão praticamente ultrapassados, porque devido à boa saúde financeira da empresa em 2019, não necessitamos de recorrer a créditos para atravessar a tormenta.

Opção Turismo – Atingiram em 2024 as metas definidas para esse ano?

Paulo Santos – Sim, os objetivos de 2024 foram alcançados, no entanto sentimos grande dificuldade em manter a margem de negócio e cumprir este objetivo. Existe uma grande pressão das Agências de Viagens no geral, trabalharem com descontos e isso não ajuda a manter rentabilidades, que depois se vão refletir nos vencimentos dos colaboradores e em equipas mais pequenas, havendo grande sobrecarga de trabalho em todos nós. 

A Guia de Viagens, enquanto agência de viagens generalista vende pacotes de ferias de operadores e outros feitos à medida criados pela agência, nomeadamente em destinos que conhecem e onde se sentem mais à vontade ou então para ir de encontro aos pedidos específicos dos clientes. No entanto, os operadores continuam a ter um peso grande nas nossas vendas.

Quanto aos destinos que mais venderam em 2024, e que são similares em ambas as agências, destaque para Cabo Verde, Caraíbas ou Asia.

Opção Turismo – Em sua opinião, como vai ser este ano? Vão os portugueses continuar a viajar?

Paulo Santos – Pelo pouco que ainda passou de 2025, começamos a acreditar que irá ser um bom ano de vendas novamente. No entanto, não podemos deixar de ter em conta os diversos fatores geopolíticos e a ameaça que os mesmos podem acarretar ao turismo se o mundo decidir começar a fechar fronteiras.

Opção Turismo – E quanto a destinos?

Paulo Santos – Relativamente a destinos, temos hoje algumas curiosidades. Com o aparecimento dos ‘influencers’ há uns anos, acontecem eventos esporádicos de procura para um destino ou outro diferente, que depois se traduzem em pouquíssimas vendas e voltamos aos destinos tradicionais. Por isso acreditamos que a maior procura será por destinos maduros e que transmitem segurança aos viajantes, no entanto existe espaço para ir surgindo novas propostas, desde que, com garantia de segurança para quem os visita.

Opção Turismo – Abriram recentemente uma terceira agência, desta feita no Bombarral.  Porquê?

Paulo Santos – A Guia Viagens abriu a nova agência no Bombarral no dia 02 de Março.

A escolha desta localização dá-se por motivos de proximidade às outras duas agências. Acreditamos que um crescimento organizado geograficamente terá maior sustentabilidade do que um crescimento sem continuidade geográfica.

Opção Turismo – Atualmente, se acaso as têm, quais são as vossas dificuldades ou o que acham que devia ser feito ou tido em atenção?

Paulo Santos – Felizmente não sentidos dificuldades dignas desse nome. Contudo, acreditamos que várias medidas poderiam ser adotadas para tornar o ramo de negócios mais competitivo e assim conseguir-se melhorar as condições de todos os que destas empresas dependem.

Apenas um exemplo:

Sofremos todos hoje com os vendedores de viagens ambulantes, pessoas que trocaram o recinto das feiras tradicionais pelo Facebook e que anunciam viagens a preços fantásticos.

Nada tenho contra, que cada um desenvolva a sua atividade, mas julgo que as autoridades deveriam inspecionar também estas atividades paralelas e não só as com porta aberta ao publico.

Seria justo para todos, inclusive para os clientes, evitando o engano.