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‘Destination Wedddings’: uma nova moda e um bom negócio (Manuel Guedes de Sousa)

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‘Destination Wedddings’: uma nova moda e um bom negócio, afirma Manuel Guedes de Sousa, diretor geral do Hotel Palácio do Estoril

Opção Turismo – Como quadro hoteleiro a atuar há 30 anos sempre na área geográfica Estoril/Cascais, com forte pendor comercial, como analisa a evolução turística da mesma?

Manuel Guedes de Sousa – Acho que tudo mudou! Acho que até as pessoas mudaram… Tal como, por exemplo, a maneira de trabalhar na hotelaria. Mudaram as atrações da zona… e até o que, então, os clientes vinham cá fazer. Estoril/Cascais, nessa altura, vivia sobretudo do turismo de lazer, os hotéis de 5 estrelas tinham o seu negócio de MICE, não havia as frequentes grandes reuniões. Hoje em dia isso mudou.  Temos um bocadinho de tudo, conseguimos eliminar as épocas baixas e ter mais clientes. O negócio de lazer acontece todo o ano e continua a crescer, temos mais grupos… o golfe cresceu muito. Mudou mesmo muita coisa, os turistas continuam a vir para os hotéis e compram agora também casas na região… a imobiliária foi então um outro negócio que apareceu tal como muitos outros que não existiam na época. Mas, sobretudo, houve grandes mudanças no atrair clientes e já não estamos tão dependentes dos operadores. Hoje, temos a internet, o online, o nosso site e por aí faz-se quase tudo!

Opção Turismo – A marca turística então existente e conhecida mundialmente era “Costa do Estoril” que, entretanto, foi extinta e substituída. Como vê essa substituição e se a região ficou a ganhar ou a perder com a troca.

Manuel Guedes de Sousa – Acho que na altura da mudança perdeu muito. A meu ver, não fez muito sentido. Era um nome conhecido internacionalmente desde a II Guerra Mundial, o Estoril era o principal destino turístico de Portugal.

Agora, ou mais recentemente, consideraram importante colocar o nome de Cascais… políticas… Cascais é o concelho, mas acho que se podia ter feito uma transição de outra maneira, juntando os dois nomes. Escolher Cascais por ser o concelho…talvez, mas eliminaram demais o nome Estoril.

Fizeram um bom trabalho com o nome de Cascais, hoje já conhecido internacionalmente e atrai muitos estrangeiros que aqui têm a sua casa ou a segunda habitação. E era só Cascais! Hoje, felizmente, já não acontece tanto isso. O nome Estoril voltou a aparecer e já há muitos eventos com o nome do Estoril… pois continua a ser um nome internacionalmente conhecido. Hoje considero que foi uma boa decisão, mas eu teria feito de outra maneira.

Taxa Turística em Cascais

Opção Turismo – A taxa turística da região duplicou o seu valor no início de janeiro, passando de dois para quatro euros. Que lhe parece este aumento

Manuel Guedes de Sousa – O que está em causa, quanto a mim, é o valor da taxa, embora ainda seja um valor razoável, a nível português. Mas já pesa para uma estada de sete noites. Todavia, em minha opinião, não faz muito sentido passar de dois para quatro euros por noite. Estamos a duplicar um valor e com esse dinheiro não vão certamente duplicar o investimento.

A ATC-Associação de Turismo de Cascais justifica-se com o facto de os valores recebidos estarem abaixo dos gastos feitos com a promoção…acredito que sim. Poderia ter havido uma transição mais suave. Cascais segue sempre Lisboa… e o ir atrás de Lisboa também não se justifica! Analisando o valor em si, que é igual para todo o tipo de unidades hoteleiras, e tendo em conta que esse valor não nos afeta muito porque somos um hotel de 5 estrelas, considero um outro erro. Se num hotel de 5 estrelas é suportável, num hotel de 4 ou 3 estrelas passar de dois para quatro euros já faz muita diferença. Há muitos locais onde os hotéis de 5 pagam mais do que os de 4 ou 3 estrelas e isso podia fazer sentido nesta Região.

Vamos a ver o que acontece em Cascais com o duplicar desse investimento.


Quem é … Manuel Guedes de Sousa

O entrevistado de hoje, há muitos anos na Hotelaria e nome bem conhecido no Turismo, dispensa grandes apresentações: Manuel Guedes de Sousa.
Hoje e desde julho de 2024, é o diretor geral do Palácio do Estoril Hotel Golf & Wellness, icónica unidade hoteleira de 5 estrelas da região, para onde entrou em1996. Foi nomeado em abril de 2004, subdiretor e responsável direto pelo departamento de Marketing & Vendas (Hotel e o Campo de Golfe) e pelo departamento de Alojamentos.Enquanto profissional do setor, a maior parte da sua carreira profissional aconteceu em Cascais/Estoril. De referir, que depois de estagiar no hotel Beau Rivage, em Genève, Suíça, veio para Portugal, tendo em assumido por alguns meses as funções de assistente da Direção no Hotel da Balaia. Em outubro de 1984 entra para o hotel Cidadela, em Cascais, tendo sido nomeado diretor da unidade em 1987.
Antes de assumir as funções de diretor de Vendas e Marketing no hotel Palácio do Estoril, em outubro de 1996, Manuel Guedes de Sousa passou ainda pelo hotel Village Cascais, então gerido pela Occidental Hotels, e pela empresa de consultadoria Horwath Consulting.
Possui, entre outros, o Curso de Gestão e Técnica Hoteleira Escola de Hotelaria e Turismo do Porto (1980/83), o Curso Complementar em “Hotel Management” EHTP/Centre International de Glion e o Professional Development Program Cornell University – Ithaca – New York (1991).


Opção Turismo – Portugal, em termos turísticos continua a estar bem. Tal como referiu Pedro Machado, o ano passado já atingimos os valores previstos para 2027. Como projeta os próximos cinco anos a nível de resultados para a Região?

Manuel Guedes de Sousa – Acho que Portugal vai continuar a crescer, a não ser que surja qualquer calamidade ou uma catástrofe. O sul da Europa continua a crescer e certamente vão aparecer outros destinos. Enquanto o mercado americano continuar a crescer e a crescer da maneira como tem crescido nos últimos anos, acho que toda a Europa beneficia disso e nós, como Espanha, vamos também beneficiar.

Para nós, hotel Palácio do Estoril, 2024 foi um ano recorde. Pensei que 2025 estabilizasse um bocado, mas já mudei de opinião e até acho que vai ser melhor que 2024. Tudo faz crer que vamos continuar a crescer, mas não sei se serão os próximos cinco anos. Pelo menos, os três próximos serão muito bons.

Opção Turismo – Este melhor momento do Portugal turístico foi também sentido no hotel em termos de ocupação e receitas?

Manuel Guedes de Sousa – Sim. A ocupação média por quarto em 2024 foi de 64%. Ou seja, muito melhor que em 2019, o então ano de referência. Não o melhor ano de sempre em ocupação do hotel, mas em receitas foi mesmo o melhor ano desde os últimos 20 anos. Claro que para isso também contribuiu o aumento do preço quarto/noite. Dinâmico em certas alturas e face à procura.

Opção Turismo – A quanto aos melhores mercados?

Manuel Guedes de Sousa – No que concerne aos atuais melhores mercados internacionais, o primeiro é o britânico, o nosso melhor mercado e que está presente durante o ano inteiro, com destaque para o segmento de golfe. Em segundo lugar está o americano – muito melhor em termos de gastos – que estava na 5ª posição há três anos (em 2023 em 3º), seguido do espanhol, francês e alemão. No global, os portugueses estão no 3º lugar muito próximo dos espanhóis.

“Destination wedding”: nova moda ou novo grande negócio

Opção Turismo – O que representou o F&B no global das receitas?

Manuel Guedes de Sousa – O F&B representa cerca de 30-35% das receitas. Na parte do F&B temos uma componente muito importante que são os eventos (reuniões de empresas, casamentos, festas, etc.), que representam a grande parte.

Gostaria de destacar que entrámos recentemente numa nova área, os chamados ‘destination wedddings’ e mais de metade deles são de estrangeiros que vêm a Portugal casar, alguns até sem qualquer ligação ao nosso País. E muitos vêm dos Estados Unidos, Índia, dos países árabes…. Recordo que há uns anos os casamentos eram 90% de portugueses.

Ainda na componente F&B outra componente interessante: fazemos o ‘catering’ no Centro de Congressos.

O sucesso nas reservas online

Opção Turismo – Mudando de assunto. O que representa hoje as reservas online e quais os principais canais?

Manuel Guedes de Sousa – No geral, as reservas online representam 35%. Dentro dessa percentagem, hoje em dia, o ‘site’ do hotel representa uns 40%. E isso foi conseguido, sobretudo, por o hotel ter criado alguns benefícios para o cliente que reserve pelo nosso ‘site’. E neste aumento pesam também as reservas dos grupos e do golfe, embora nem venham sempre pelo online pela sua especificação. Mas, destaco, continuam a ser feitas ainda muitas reservas diretamente pelo telefone. Normalmente por clientes de há muitos anos. Acho que isso é uma constante própria dos hotéis de 5 estrelas.

Os restantes (60%) são reservas feitas pelas OTA’s com a Booking no primeiro lugar, seguido pela Expedia.

Opção Turismo – Como é que acha que vai ser este ano de 2025?

Manuel Guedes de Sousa – Penso que vai ser muito parecido com o 2024. Sente-se que a procura já disparou. Costumamos fazer sempre umas campanhas especiais durante o mês de janeiro, nomeadamente para o mercado britânico, e já foram feitas muitas reservas para o ano inteiro.

Normalmente, nos meses de janeiro, fevereiro e março as ocupações são baixas. Todavia, este ano fomos surpreendidos pois as ocupações têm sido muito melhores do que o esperado.

Opção Turismo – Obras e investimentos?

Manuel Guedes de Sousa – Já acabámos umas e iniciamos outras, obras necessárias. Muitas delas os clientes não vão ver ou perceber. Além de algumas obras pontuais e sempre habituais, saliento a conclusão do reforço dos pilares do hotel e a melhoria das canalizações. Em janeiro iniciou-se a construção de uma nova cozinha. Até final de março temos as salas todas encerradas e consequentemente temos limitações em receber grupos com mais de 30 pessoas. Também vamos substituir os telhados nas duas alas laterais do hotel. Por falta de tempo, não iremos fazer algumas remodelações nos quartos.

Em resumo, este investimento até final de março vai rondar cerca de um milhão e meio de euros.