Portugal é um país de riquezas incontáveis no turismo, mas, como qualquer terreno fértil, é preciso saber cultivá-lo. Ora, alguns municípios parecem estar a colocar o carro à frente dos bois ao implementar taxas turísticas sem antes definir uma estratégia clara para o turismo local. Talvez queiram colher frutos antes de semear as sementes, mas correm o risco de esgotar o terreno no entretanto. Antes mesmo de desenvolverem um programa estratégico para atrair, gerir e valorizar o turismo nos seus territórios, a prioridade passa pela arrecadação das taxas turísticas. Quantos dos municípios que estão prestes a cobrar estas taxas têm um plano estratégico para o setor, alinhado com as estratégias regionais e nacional, que orientam o desenvolvimento turístico? Quantos dos municípios já determinaram os objetivos a atingir face à carga turística máxima dos seus concelhos? Que pressa é esta que turva a visão e incita à ganância?
Não se questiona a utilidade das taxas turísticas – quando bem aplicadas, são uma ferramenta importante para apoiar no reinvestimento das infraestruturas, na valorização do património ou na promoção do bem-estar dos residentes. Mas, para isso, afigura-se essencial um plano estratégico que defina objetivos e prioridades. Implementar taxas turísticas sem qualquer programa transmite a mensagem errada: a de que o foco está mais na arrecadação rápida de receita do que no desenvolvimento do setor ou do território.
Afinal, como estão estas taxas a ser comunicadas aos operadores económicos do setor e à comunidade local? Qual é o impacto das mesmas na perceção que os turistas têm sobre o território que visitam? Estão os visitantes, os residentes locais e os empresários conhecedores do destino final dessas taxas? Transparência, diálogo e colaboração são indispensáveis para garantir que estas medidas sejam compreendidas e valorizadas por todos os envolvidos.
Portugal tem uma oportunidade única de se posicionar como um bom exemplo, contribuindo para um turismo mais empático e responsável. Para isso, é necessário trocar a urgência por visão, as decisões avulsas por planeamento estratégico. O futuro do nosso turismo, o campo onde todos os setores económicos, sem exceção, colhem frutos, merece uma abordagem ponderada e inclusiva. Fica o convite à reflexão – e à ação.
*Rita Marques, Porto Business School