O mérito não lhe falta, e o reconhecimento (que nunca será suficiente) vai surgindo. Entre muitos outros galardões, em 2022 foi agraciado com a medalha de Ouro de Mérito Turístico da APAVT e, este ano, foi agraciado com a medalha de Prata de Mérito Turístico na Cimeira do Turismo Português, organizada pela CTP. Trata-se de Albano Cymbron, empresário, agente de viagens e um Senhor daqueles que se escrevem com maiúscula. Pedi-lhe, há um par de semanas, que nos fizesse o favor de partilhar as suas opiniões no Opção Turismo, a que felizmente acedeu.
O texto abaixo (excluindo o título), que reproduzo com a sua aquiescência, não era para publicar, mas tratava-se simplesmente do corpo de um e-mail que me enviou para trocar ideias sobre os temas a tratar. Mas como creio concordarão, é em si mesmo merecedor de destaque. Obrigado, Albano Cymbron.
Luis Magalhães
Turismo nos Açores: Entre o passado e o presente
À medida que envelhecemos, vamos compreendendo cada vez menos o comportamento das novas gerações, especialmente no que toca ao turismo. Querem turismo, mas, ao mesmo tempo, parece que não sabem bem como lidar com ele. Nos Açores, por exemplo, há relatos de turistas que são mal recebidos, até ao ponto de serem incomodados para irem embora. Chega a ser irónico: o turista é visto como um incómodo, mas, quando resolve realmente partir, o que se ouve são gritos de lamento pela falta deles!
A humanidade tem este traço peculiar, que atravessa séculos sem mudança: criticam-se as pessoas por “ter cão”, e criticam-se por “não tê-lo”. Este comportamento não mudará com um artigo meu, nem com uma biblioteca inteira sobre o tema.
Mas se falarmos de história, há muito que posso contar sobre o turismo nos Açores. Poderia, por exemplo, falar sobre os anos 30, quando o turismo na ilha de São Miguel começou a dar os seus primeiros passos. Aliás, refiro-me a São Miguel porque, nas restantes ilhas do arquipélago, o impacto foi praticamente nulo durante décadas.
Ouvi, em 1972, um caso interessante. Naquela época, a Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada e de Santa Maria encomendou a uma empresa espanhola um estudo sobre o desenvolvimento do turismo. O responsável pelo estudo comentou que a única forma de controlar a qualidade do turismo era dificultar o acesso à região, e que nem o preço seria um entrave. Esse pensamento ecoa hoje, quando ouvimos queixas de que há turistas a mais, o que me faz perguntar: será que queremos voltar aos anos 80, quando havia apenas um voo diário de Lisboa para Ponta Delgada?
Lembro-me bem dessa época. O voo partia de Lisboa às 19h, o que obrigava o turista a passar duas noites na capital – uma antes de vir e outra no regresso. Chegávamos a Lisboa já de madrugada. E mesmo quando, nos finais da década de 80, a TAP conseguiu ajustar o horário de um voo da Dinamarca, para facilitar as ligações com os Açores, a receção à ideia não foi tão positiva quanto esperávamos. Um operador sueco, que já organizava grupos para os Açores, preferia manter o programa com uma noite extra em Lisboa. Para ele, essa pausa na capital era uma mais-valia. E assim continuou, até o início das operações charter no começo dos anos 2000.
Olhando para trás, questiono-me se não estamos a repetir os mesmos erros. É fácil esquecer os desafios do passado quando vivemos no presente. Mas ao ouvir as queixas de que temos turistas a mais, pergunto-me: será que queremos mesmo voltar àqueles tempos?
O turismo nos Açores tem uma história que merece ser lembrada, não só pelos seus sucessos, mas também pelos desafios e sacrifícios que enfrentamos para chegar até aqui.
Por Albano Cymbron