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Miguel Sanz (ETC): “Limitar o número de turistas é uma armadilha”

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Em entrevista ao Observador, Miguel Sanz, presidente da European Travel Commission (ETC), defendeu que o foco para resolver os problemas do turismo de massas deve estar na sustentabilidade e no impacto positivo para as comunidades locais, em vez de simplesmente limitar o número de visitantes. Sanz alertou que reduzir o fluxo turístico é uma solução simplista para um problema complexo e que é necessário adotar uma visão mais ampla, centrada no desenvolvimento económico e social das regiões.

Numa altura em que o turismo na Europa está a atingir novos recordes, com destinos como Espanha, Portugal e Grécia a registarem um forte crescimento, Miguel Sanz, presidente sublinhou a importância de adotar políticas que priorizem a sustentabilidade e o bem-estar das comunidades locais. “O foco não deve estar no número de visitantes, mas sim na qualidade dos empregos, nas receitas geradas e no impacto ambiental”, afirmou.

Sanz considera que limitar o número de turistas em destinos sobrelotados, como têm sugerido alguns movimentos, é uma solução simplista. “Há vozes a defender que a solução para destinos sobrelotados é diminuir o número de turistas. Isso é uma armadilha”, afirmou. Em vez disso, ele sugere que as estratégias turísticas sejam orientadas por uma visão holística, que leve em conta indicadores como o consumo de recursos e o impacto na vida das populações locais.

O presidente da ETC também destacou a importância de incluir as comunidades locais na formulação de políticas turísticas. Para ele, os protestos que têm surgido em várias cidades europeias contra o turismo de massas — como em Barcelona, Sintra e nas ilhas gregas — são um sinal de que as comunidades querem ser ouvidas. “Temos de ouvir as comunidades locais. Elas devem ter um lugar à mesa onde as decisões sobre o turismo são tomadas”, defendeu.

Para Sanz, o turismo deve ser uma ferramenta de desenvolvimento económico para as comunidades locais, promovendo a criação de empregos de qualidade e incentivando um modelo de crescimento mais sustentável. Ele deu o exemplo de Benidorm, em Espanha, que conseguiu reduzir o consumo de água ao mesmo tempo que o número de visitantes continuava a crescer, graças à implementação de tecnologias mais sustentáveis.

Além disso, Sanz referiu que destinos emergentes, como Albânia e Montenegro, estão a crescer de forma acelerada, não necessariamente à custa dos destinos mais tradicionais, mas sim devido ao aumento da procura global. “Não estão a roubar turistas a Portugal ou a Espanha, é uma nova procura que está a ser gerada”, explicou.

No que diz respeito ao futuro, Sanz acredita que a indústria turística europeia está numa fase de transição, com um foco cada vez maior na sustentabilidade e no impacto social. “A indústria turística europeia está a passar por uma transição muito rápida e muito importante para um modelo mais sustentável”, afirmou. Ele concluiu que o turismo, se bem gerido, pode continuar a crescer, mas com um impacto positivo tanto para os turistas quanto para as comunidades locais.