– Afirma Sofia Santos, diretora e sócia da Viagens à La Carte
Começou como freelancer na DIT Viagens, um grupo de gestão de agências de viagens, porque queria entrar no mundo do turismo. E durante um ano aplicou-se a fundo, fazendo todas as formações que lhe propuseram, fossem elas de operadores ou da própria DIT. E foi assim que Sofia Santos deu os primeiros passos na indústria do turismo.
– Nessa altura, foi-me dito que tinha sido a única que fez todas as formações que existiam online, salienta a hoje diretora e sócia da Viagens à La Carte, confidenciando também que ‘explorou’ bastante o que os colegas da velha guarda têm sempre para ensinar.
O bichinho do turismo estava entranhado, era o que queria mas, no fundo, o seu grande desejo era ter a sua própria agência de viagens.
E tal a vontade que não só registou o nome de uma sua futura agência como adquiriu o domínio.
– Um ano se passou e cheguei à conclusão que sim, era esta a área de negócio que me preenchia e me deixava realizada. Partimos então para o próximo passo, abrir a nossa agência.
Dito e feito! E abriu uma sociedade com o seu marido. Em setembro de 2018 nasceu oficialmente a marca Viagens à La Carte com o RNAVT 8073.
Pandemia frusta planos, mas não desanimam
Nesse ano, abriram uma agência de viagens na Cova da Piedade que veio a encerrar com o início da pandemia.
Como dos fracos não reza a história, jamais pensaram em desistir do projeto de terem a sua própria agência.
Entretanto, Tavira, a terra natal de ambos, foi sempre uma hipótese de regresso às origens. Quando encerrou uma agência que lá existia anteriormente, aproveitaram para abrir a sua e instalaram-se na Rua 1º de Maio, nº 7.
– O nome, tal como a ideia de tentar este negócio, surgiu na nossa lua de mel. Nessa altura, fomos a imensas agências de viagem. Queríamos praia, cultura e na Europa, pois o meu marido não tinha então passaporte. Nada do que nos foi apresentado foi de encontro com o que pedimos. Olhando hoje para trás, nem Tunísia que não precisa de passaporte nos foi proposto… Todas as agências que visitámos se basearam apenas e somente em pacotes de operador, desabafa Sofia Santos acrescentando a situação foi resolvida por ambos, sozinhos, com a marcação online do desejado para a lua de mel em Malta.
Nome da agência traduz o desejo de ambos
– Durante a nossa lua de mel comentámos imensas vezes como é possível que não haja uma agência que faça viagens ‘à la carte’. Fazia-nos imensa confusão como é que uma agência não era capaz de fazer algo que nos fizemos sozinhos e eram eles os profissionais!
Por isso, quando decidimos que era esta a área, o turismo, começámos a pensar num nome e nada nos ocorria quando de repente o Aldino se lembrou… “então passámos a lua de mel a falar em viagens à la carte. Não era um bom nome para uma agência?”. Afinal, não era isso que queríamos fazer na realidade? Ou seja, viagens à medida do cliente que não se identifica com os pacotes de operador.
E assim nasceu a Viagens à La Carte, a “filha” do casamento com Sofia Santos e Aldino Viegas, que são também os únicos sócios da agência.
Sendo assim, a Sofia exerce as funções de diretora e o Altino, que é Bioquímico de profissão, é responsável pela publicidade e imagem da empresa.
Quanto a planos a médio prazo, o desejo é abrir em Lisboa e Porto, mas com a dificuldade com que nos deparamos em contratar não vai ser fácil, visto que o nosso maior inimigo tem sido a falta de capacidade de resposta.
– Recordo que, quando comecei, muitos me disseram que quando entrasse neste mundo viciante, não se consegue sair. E parece que tenho de concordar.
2022: um ano extraordinário
Depois desta introdução, a pergunta que se impõe fazer é como foi o ano de 2022 para a agência.
– 2022 foi um ano extraordinário! Tivemos um aumento brutal face a 2019, mas também não podemos esquecer que em 2019 ainda estávamos na fase embrionária. De qualquer modo, tivemos um crescimento de faturação de cerca de 340% face a 2019 e um aumento de número de clientes de 63% face aos que tínhamos em 2021 e 205% de novos clientes face aos novos clientes em 2019. Não só ganhámos novos clientes como fidelizámos alguns também e o ‘budget’ que os clientes tinham também em grande parte eram superiores aos que verificávamos anteriormente, explica Sofia Santos, salientando que a retoma do turismo foi sentida em todos os aspetos. Era expectável pois muitos estavam ansiosos por ter a liberdade de poder viajar.
Todavia e em relação ao ano corrente está um pouco receosa, nomeadamente pela crise. Vamos ver como vai ser, mas sempre com pensamento positivo.
Considerando, obviamente, que o volume baixa sempre no inverno, destaca que esta época está a correr bastante bem, comparativamente com anos anteriores.
2023 não será tão bom como o ano anterior, mas….
– No entanto, penso que 2023 não vai ser tão bom quanto o 2022, mas também não me parece que será assim tão pior. Na sua opinião, foi um grande choque para os clientes quando se aperceberam dos valores bastante elevados dos programas.
– Embora alguns já tenham descido, o certo é que o cliente também já se consciencializou de que não teremos os valores do ano passado, diz a nossa entrevistada, destacando certamente a partir de março, as reservas vão começar novamente.
– Alguns poderão não fazer as viagens a que estão habituados e, consequentemente, terão de baixar um pouco os padrões que desejam ou reduzir o número de viagens. Todavia, penso que a maioria continuará a viajar. E o que está a ser mais vendido, tanto para o inverno como para o verão, são as viagens para fora de Portugal.
No que concerne a vendas em 2022, o mais vendido foram os suspeitos do costume: capitais europeias, Caraíbas, Cabo Verde e ainda o Brasil, que não era tão comum em vendas anteriormente.
– Outro destino que se evidenciou foi o Egipto, com mais pedidos do que era habitual.
A diretora da Viagens à La Carte desabafa que o tempo da pandemia foi passado com muita dificuldade, principalmente porque eram uma empresa nova em fase de crescimento.
– Sinceramente e em alguns momentos pensei que não íamos conseguir. Ainda estamos a pagar a fatura, mas já conseguimos pensar no futuro com um sorriso. Acho que foi um verdadeiro teste à nossa resiliência e muitas noites sem dormir… Mas na data prevista todos os nossos clientes tinham os ‘vouchers’ não utilizados reembolsados e foi um alívio enorme. Agora é ir para a frente!
E quanto à programação que lhe é agora oferecida pelos operadores turísticos nacionais?
– É muito bom não só ver alguns novos destinos a aparecer como outros a reaparecer após a pandemia.
Deslocação de algumas operações para o Porto dificultam operação
Sofia Santos lamenta e tem pena que não seja possível ter todas as habituais operações a partir de Lisboa e que essas sejam direcionadas para o Porto, que fica tremendamente longe para quem é do Alentejo ou do Algarve. É complicado em termos de logística.
– Também é sabido que quem é da zona da Grande Lisboa é reticente a ir apanhar voos ao Porto. Talvez falta de hábito…. Compreendo que o aeroporto de Lisboa está superlotado, mas é difícil fazer o cliente ver isso.
Desejo: ter voos charter suficientes à partida de Faro
É sabido que os voos ‘charters’ acontecem, quase na sua totalidade, na época alta. Ou seja, por exemplo, quando os residentes no Baixo Alentejo e Algarve trabalham mais em força no turismo. No entanto, o Opção Turismo gostaria de saber porque, de uma forma geral, as agências do Algarve querem voos charters a partir de Beja.
– Considerando que os voos estão a ser “transferidos” para o Porto, que como já referi anteriormente fica num extremo do país, não seria mais lógico centraliza-los mais para um aeroporto que está pronto a ser usado e não deixa ninguém tão longe? Um cliente de Lisboa aceitaria mais facilmente apanhar um voo em Beja que no Porto a meu ver. Não consigo entender como é possível que com um aeroporto a rebentar pelas costuras não se aproveita o de Beja, que inclusive iria dinamizar o interior, para os voos los cost por exemplo. Porque é que Portugal tem que ser diferente? Na maioria das grandes cidades os voos ‘low cost’ não vão para o aeroporto principal e ficam muitas vezes bem longe do destino pretendido. As pessoas deixam de voar? Não! E até aliviava o aeroporto de Lisboa.
A diretora de Viagens à La Carte considera que esta situação está a mudar, mas não o suficiente para colocar ‘charters’ em Beja.
– Quando decidimos mudar a agência de Almada para Tavira a minha mãe disse-me “Oh filha as pessoas aqui não viajam…”. Esta infelizmente ainda é a ideia que muita gente tem do Algarve, que são uns coitadinhos mortos de fome que trabalham no verão para sobreviver ao inverno. A questão é que cada vez se vê menos diferença entre verão e inverno. E complementa, justificando que agora há sempre turistas no Algarve e há os que vieram e ficaram na região. Ou sejam, novos habitantes e novos clientes com poder de compra.
Então será que para os residentes no Algarve, Beja pode ser uma alternativa a Lisboa?
– No nosso caso em particular não queremos os charters de Beja, queremos sim que existam opções em Faro, uma vez que temos muitos estrangeiros com morada fixa na região e o aeroporto Gago Coutinho/Faro serve apenas meia dúzia de destinos. Quando dizemos aos nossos clientes estrangeiros que não temos um único voo direto para nenhuma das nossas 11 ilhas, acham simplesmente absurdo, afirma e comenta que embora o aeroporto de Sevilha esteja quase tão fantástico como o de Faro, a maioria dos destinos têm que ser feitos via Madrid ou Barcelona.
Falta de pessoal é a grande dificuldade
Como nem tudo são rosas, como se costuma dizer, um dos principais problemas da Viagens à La Carte é a falta de pessoal.
– Está muito difícil contratar alguém e já nem falo em pessoal qualificado. Até desejamos alguém que possamos ensinar e que simplesmente queira trabalhar.
A terminar esta entrevista, Sofia Santos, diretora da Viagens à La Carte, considera que o que distingue a sua agência das outras é a forma com tratam os seus clientes, o mimar dos clientes.
– Fazemos o máximo que podemos para que fiquem sempre satisfeitos. Não damos sempre razão, porque nem sempre a têm, mas tentamos deixa-los sempre felizes. Como costumo dizer, às vezes mais vale perder numa para ganhar nas seguintes e não estou a falar de descontos. Na realidade é só tratarmos os outros como gostaríamos de ser tratados.
Luís de Magalhães