O turismo em Constância, ao que parece, ou melhor, por alguns comentários ouvidos, não tem merecido uma atenção especial por parte da autarquia, quando muito se ouve dizer de algumas potencialidades turísticas do concelho.
Numa troca de palavras com Luís Gonçalves, empresário sediado há alguns anos em Constância e com muitos anos ligado ao turismo, nomeadamente como diretor de hotel e gestor, o Opção Turismo perguntou se realmente é assim.
Luís Gonçalves – A promoção turística, tal como a conhecemos há longos anos, para ser eficaz, tem que ter o envolvimento e a participação das entidades promotoras e das empresas ligadas ao turismo. Sob este prisma, não diria que a promoção seja suficiente, afirma Luís Gonçalves explicando que os pequenos concelhos terão que se agrupar para uma promoção mais eficaz, porque, individualmente, a oferta turística é financeiramente insuficiente para desenvolver ações individuais de promoção com resultados que justifiquem o investimento.
Luís Gonçalves – Porém, Constância tem o privilégio de ser promovida pelos próprios visitantes e turistas através do chamado ‘boca-a-boca’.
Opção Turismo – Então que tipo de turismo considera que Constância deveria ter? Nomeadamente sabendo-se que tem poucas camas turísticas e unidades de alojamento.
Refira-se que em termos de alojamento o concelho de Constância, tem uma oferta de cerca de 110 camas, das quais 70 dizem respeito a estabelecimentos de hospedagem distribuídos por uma antiga residencial, um hostel e uma unidade de turismo de habitação. As restantes 40 camas estão distribuídas por pequenas unidades de Alojamento Local. A estas vêm juntar-se brevemente um Hotel de Charme com nove ou 10 quartos.
Luís Gonçalves – Com esta pequena oferta de camas turísticas, Constância é um destino para o turista individual que a procura no sentido de fuga à agitação das cidades maiores, para ter sensações diferentes, para se reencontrar.
Quanto às motivações, o nosso entrevistado diz que se diferenciam bastante.
Luís Gonçalves – Durante a semana a maioria dos hóspedes são técnicos ao serviço de empresas locais e, ao fim de semana, turistas individuais ou pequenos grupos que participam em eventos como casamentos e atividades ao ar-livre.
Opção Turismo – Por falar em motivações, o que tem o concelho para oferecer para atrair turistas?
Luís Gonçalves – Constância está muito bem localizada, na confluência do Rio Zêzere com o Tejo, em cuja ilha se encontra o Castelo de Almourol, visita obrigatória da Rota Templária.
Além da gastronomia, Constância tem condições para a prática de desportos fluviais, pesca desportiva, safari fotográfico, observação de aves, trilhos ribeirinhos – ‘A Grande Rota do Zêzere’ e os ‘Caminhos do Tejo’ –, o Parque Ambiental de Santa Margarida e Borboletário Tropical.
Também a destacar, o facto de a vila possuir o mais moderno Centro Ciência Viva/Parque de Astronomia da Península Ibérica. E também algo muito importante: oferece sons da natureza e tranquilidade, frisa.
Luís Gonçalves – O prioritário é pegar nisto tudo e construir ‘package’s bem estruturados e diferenciados, dirigidos a vários nichos do mercado e promovê-los, ou seja, conjugar a iniciativa privada com a do setor público.
Opção Turismo – Considera então que há uma espécie de “esquecimento” na promoção turística do concelho. Pode dar alguns exemplos disso?
Luís Gonçalves – A Entidade Regional de Turismo em que estamos inseridos é o Turismo do Centro, que, tal como o ‘slogan’ diz, é um país dentro do País. Reúne 100 concelhos das regiões Ria de Aveiro, Viseu, Dão Lafões, Região de Coimbra, Serra da Estrela, Região de Leiria, Médio Tejo, Oeste, Beira Baixa. É natural que não dê a devida importância a cada um deles nas publicações do portal “Aqui Entre Nós”.
É natural que as potencialidades, eventos e celebrações sejam omitidos nas publicações do portal por desconhecimento ou por falta de iniciativa comunicacional entre os vários concelhos e a entidade. E, sobre esta situação, o nosso interlocutor, dá como exemplo a inexistência no portal “Aqui Entre Nós” de qualquer referência à centenária Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, que a autarquia elevou ao expoente máximo de eventos culturais, realizada todos os anos na Páscoa, nenhuma referência aos equipamentos de turismo cultural/científico, às atividades em plena natureza (caminhadas, cicloturismo, etc).
Queijinho de Céu: um ex-libris de Constância
Opção Turismo – Mas também no campo da Gastronomia a vila de Constância tem um ‘ex-libris’…
Luís Gonçalves – O “Queijinho do Céu” faz parte do património gastronómico de Constância. Feito de ovo, açúcar e amêndoa. Sendo um doce conventual, era uma oferta muito considerada a oferecer a um médico ou a alguém por quem se tinha elevada consideração.
Aliás, antes da introdução da cana do açúcar em Portugal durante os Descobrimentos, o açúcar era uma iguaria reservada à classe alta da sociedade e para fins medicinais.
Quando a burguesia tinha convidados, recorde-se que em Constância esteve Dom Sebastião, Dona Maria II e Dom Fernando), pedia às freiras que confecionassem pratos especiais, principalmente as sobremesas.
Isto era ouro sobre azul; as freiras usavam claras de ovo para gomar os hábitos, e assim deram utilidade às gemas que sobravam.
Até há cerca de dois anos eram as Irmãs Clarissas que habitam o Mosteiro de Nossa Senhora da Boa Esperança em Montalvo – uma das freguesias de Constância – que os confecionavam para “O Café da Praça”. Hoje, são apenas quatro freiras, de idade avançada, mas quiseram garantir a continuidade desta confeção manual a pessoas do concelho.
Hoje é uma justificação para desvios desde a A23 para acompanhar com um cafezinho ou um portinho e levar alguns para os amigos e família.
Opção Turismo – Em seu entender, como se poderia colmatar a situação? Ou melhor, o que poderiam fazer – que ações, por exemplo – a Câmara e a Região de Turismo para colocarem Constância a cativar/fixar turistas?
Luís Gonçalves – Antes de mais, há que conhecer o produto cá dentro, ou seja, envolver toda a comunidade no conhecimento do território e dos valores culturais. De seguida, juntar a autarquia e as empresas/estabelecimentos que vivem do setor, na organização de uma educacional de vários dias para que técnicos de turismo do Centro se familiarizem com o produto e os jornalistas o divulguem.
A terminar esta troca de impressões, Luís Gonçalves revela que a duração média da estada é de 1,6 dias. Sendo assim, o objetivo de uma ação de promoção turística deveria ser o aumento para 3,5 dias, reunindo a oferta diversificada dos municípios da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo.
Luís de Magalhães